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Cobogó: criação brasileira de sucesso é queridinha dos modernistas

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22/07/2018 04h00

Você podia até não saber que o nome era esse, mas sem dúvida já viu cobogós em algum lugar. Esses simpáticos elementos vazados, hoje feitos a partir da mais variada gama de materiais, são fruto de uma reinterpretação brasileira de um ícone da arquitetura árabe, o muxarabi. E, apesar de soar indígena, a palavra que os batiza surge da junção das iniciais do sobrenome de seus criadores.

Projeto de Wolveridge Architects – cobogó metálico, delicado

Originalmente feito de concreto, o cobogó foi criado em Recife, em 1929, pelos engenheiros Amadeu Oliveira Coimbra, português, Ernest August Boeckmann, alemão e Antônio de Góes, brasileiro. CO-BO-GÓ. A criação foi a solução que encontraram para amenizar as condições climáticas bastante características de países tropicais, nos quais a luz é generosa e o calor, abundante. Os blocos vazados permitiam, ao mesmo tempo, levantar uma parede e controlar a incidência de luz sem vedar a entrada e circulação de ar nos lares nordestinos.

Projeto de Alexanderson Arquitectos – cobogó feito de tijolos sobrepostos

Projeto de TACO taller de arquitectura contextual – fachada e interior com mesmo padrão de cobogó

Amplamente difundido por Lúcio Costa, virou elemento constante em obras da arquitetura moderna brasileira e sua simplicidade e baixo custo foram suficientes para que logo se tornasse popular. Duas décadas depois passou do fechamento ao interior das casas. Querido do modernismo, o recurso pode ser encontrado em casas e prédios públicos de Brasília do plano piloto.

Projeto de Baas Arquitetura – fachada de edifício inteiramente fechada com cobogós simples, mas que conferem um efeito muito bonito

Projeto de Alan Chu – sem a distinção clara de onde termina uma peça e começa outra, a parede de cobogós parece uma renda

A inspiração é claramente oriunda dos muxarabis (Mashrabiya) árabes: treliças construídas de madeira, normalmente instaladas em janelas e sacadas, com o objetivo de permitir que fossem abertas sem, contudo, permitir que as mulheres que dentro estivessem fossem vistas da rua. Por serem proibidos de representaram elementos vivos –acreditam que a perfeição das formas criadas por Allah não poderiam jamais ser alcançadas pelas mãos humanas, o que resultaria em uma ofensa– os artesãos islâmicos se aperfeiçoaram em composições com formas geométricas e arabescos.

Projeto de Arqtipo – versão ainda mais clean do cobogó

Projeto de Leo Shehtman para Casa Cor 2018 – cobogó ao fundo com inspiração total nos muxarabis árabes

Na versão brasileira, de modo geral, há uma dosagem mais igualitária entre permeabilidade visual e privacidade, com aberturas mais generosas. Mas a atual variedade no mercado permite níveis de abertura para todos os gostos, bem como materiais e acabamentos. Nos últimos anos o cobogó voltou a aparecer nos projetos de arquitetura e decoração, possibilitando a inovação, podendo ser encontrado em mármore, vidro, madeira, cerâmica…

Projeto de Ana Yoshida – usado como divisória da cozinha para a sala

Projeto de Naomi Abe para Casa Cor SP 2018 – igualmente usado no interior da residência, compõe com a decoração

A incidência do sol nos elementos vazados desenha sombras únicas nos pisos e paredes, um efeito que transforma todo o ambiente. Durante o dia, quem está dentro consegue ver o que se passa no exterior, e no decorrer da noite, a luz artificial atravessa os pequenos vãos no sentido contrário, tornando a arquitetura uma espécie de luminária, que se modifica conforme a vida acontece em seu interior.

Projeto de Vo Trong Nghia Architects – outra fachada de edifício projetada com cobogós. Destaque para o efeito de iluminação de dentro para fora

Assim como seus precursores, os cobogós tiram proveito das infindáveis possibilidades de combinações geométricas fazendo, além do seu papel funcional, o decorativo também, trazendo charme e história para o projeto arquitetônico.

Projeto de Bloco Arquitetos – Cozinha iluminada e delimitada por cobogós de meia parede para cima

Projeto de Casa 100 Arquitetura – mistura de materiais

Projeto de CR2 Arquitetura – porque não destacá-los?

Projeto de Studio MK27 – trabalho primoroso na divisão da residencia sem se fechar totalmente para o que acontece do lado de lá

Sobre os autores

A dupla de arquitetos que assina este blog tem muita genética envolvida: Beatriz Dutra e André Bacalov, além de mãe e filho, são a oitava e nona gerações de artistas plásticos da família. No início, ela não queria que ele seguisse sua profissão. Mudou de ideia quando viu o talento do jovem e o convidou para trabalhar com ela. Foi aí que André decidiu começar uma carreira independente. Beatriz chefia o escritório que leva seu nome e André optou por criar o próprio, com duas sócias, o TRiART. Agora, aqui no Casa de Viver, eles finalmente trabalham juntos

Sobre o blog

Um blog com muitos macetes e sugestões para deixar seu lar mais bonito, prático e deliciosamente aconchegante. Mas não um lugar que pareça uma vitrine, não! Ninguém vive feliz em um cenário intocável. A gente quer que você tenha uma casa inspirada nas palavras de Carlos Drummond de Andrade: "Arrume a sua casa todos os dias... Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo para viver nela".

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